7.10.05

Prece de um cão abandonado

Sabe Senhor, ainda não entendi. Fomos à praça, pensei ser um bom passeio, estranhei, ele não tinha esse hábito, mas eu fui feliz. Lá chegando, me deu as costas, entrou no carro e nem disse adeus. Olhei para os lados, nem sabia o que fazer. Ainda tentei segui-lo, quase fui atropelado. Que teria feito eu de tão mau? À noite, quando ele chegava, abanava o rabo feliz, mesmo que ele nunca viesse ao quintal me ver. Às vezes eu latia, mas tinha estranhos no portão, não podia deixá-los entrar sem avisar meu dono. Quem sabe foi minha dona que mandou, devia achar que eu dava trabalho, mas não as crianças, elas me adoravam. Como sinto saudades! Puxavam minha cauda, às vezes eu ficava uma fera, mas logo éramos amigos novamente. Creio que elas nem sabem. Deve ter dito que fugi. Estou tão faminto, só bebo água suja, meus pêlos caíram, quase todos. Nossa! Como estou magro! Sabe Pai, aqui nesse canto que arrumei para passar a noite, faz muito frio, o chão está molhado. Creio que hoje, vou me encontrar contigo, aí no céu, meu sofrimento vai terminar. E, mesmo em espírito, quero ter permissão para ver as crianças. Peço-vos, então, não mais por mim, mas pelos meus irmãozinhos: "Senhor, mande-lhes pessoas que deles tenham compaixão, pois como eu, sozinhos não viverão mais que alguns meses na Terra do Homem. Amenize-lhes o frio, igual ao que agora sinto, com o calor de atos de pessoas abençoadas. Diminua-lhes a fome, tal qual a que sinto, com o alimento do amor que me foi negado. Mata-lhes a sede, com água pura de seus ensinamentos transmitidos ao homem. Elimine a dor das doenças, extirpando a ignorância da Terra. Tire o sofrimento dos que estão sendo sacrificados em atos apregoados como: religiosos, laboratórios, matadouros e tudo mais, tirando das mãos humanas o gosto pelo sangue. Ampare as cachorrinhas prenhes que verão suas crias morrerem de fome, frio e pestes sem nada poderem fazer. Abrande a tristeza dos que, como eu, foram abandonados, pois entre todos os males. o que mais doeu foi esse. Receba Pai, nesta noite gélida, a minha alma, pois não mais será meu o sofrimento, mas dos que ficarem e por eles vos peço". Autoria Desconhecida

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