19.3.06

UMA SÓ VEZ, CULPE O ALUNO

por Patrick Welsh 8 de março de 2006

O fracasso em sala de aula é frequentemente relacionado à falta de fundos, professores fracos ou outros infortúnios. Aqui vai um pensamento: talvez seja a falta de ética de trabalho das crianças de hoje. É o que tenho visto na minha escola. Até que reformistas vejam esta realidade, pouco irá mudar. Mês passado, enquanto calculava a média das notas do segundo bimestre da minha turma de Inglês da 12a. Série da T.C. Williams High School em Alexandria, Virginia., um padrão já familiar ficou visível. Crianças [mais pobres] que haviam emigrado de países estrangeiros frequentemente gabaritavam todos os testes, enquanto muitos de seus colegas de sala, nascidos nos Estados Unidos, vindos de famílias de classes sociais mais altas e com pais altamente educados, tiravam uma série de C's e D's. O que muitas das crianças americanas não tinham, pensei, era a motivação, a auto-disciplina ou a ética de trabalho das crianças estrangeiras. Políticos e burocratas da área de educação podem falar o quanto quizerem sobre reforma, mas enquanto a ética de trabalho dos alunos americanos não mudar, ou enquanto não estiverem dispostos a dedicar mais tempo e a se esforçar para dominar o conteúdo das matérias, pouco irá mudar.

Um estudo publicado em dezembro pelos pesquisadores Angela Duckworth e Martin Seligman da Universidade da Pennsylvania sugere que o motivo de tantos alunos americanos não estarem alcançando seu potencial intelectual não é consequência de “professores inadequados, livros chatos e salas de aula com muitos alunos” e da mesma ladainha de sempre mencionada pelos “assim chamados” reformistas – mas sim uma consequência de "não exercitarem a auto-disciplina" O fato triste é que nos EUA o empenho por parte dos alunos não é mais visto como um fator chave para o sucesso acadêmico. O trabalho de Harold Stevenson e de uma equipe internacional da Universidade de Michigan, no qual compararam atitudes de alunos asiáticos e alunos americanos, soou um alarme há mais de uma década. Quando foram solicitados a identificar os fatores mais importantes para terem um bom desempenho em matemática, a porcentagem de alunos tailandeses e japoneses que respondeu “estudar muito" foi o dobro da porcentagem de alunos americanos. Os alunos americanos responderam “inteligência nata” e alguns disseram “o ambiente familiar”. Mas, a grande maioria de alunos americanos colocou a responsabilidade nos seus professores. Um bom professor, eles disseram, era o fator determinante para terem um bom desempenho em matemática. "As crianças convenceram seus pais de que o problema é o professor ou o sistema, e não a própria falta de empenho delas," comentou Dave Roscher, um professor de Química da T.C. Williams em Washington. "Na minha época, os pais não davam ouvidos quando os filhos reclamavam dos professores. Nós temos que, milagrosamente, fazer com que os alunos aprendam, muito embora eles não estejam fazendo nenhum trabalho” Como meu colega Ed Cannon coloca: "Hoje é esperado que o professor seja responsável por motivar o aluno. Se os alunos não aprendem o problema é nosso, e não deles." E, obviamente, pais ocupados, com uma certa culpa pelo pouco tempo que passam com seus filhos, são os grandes defensores desta teoria. Talvez todas as gerações de crianças tenham desejado não ter que se esforçar muito, porém, até algumas décadas atrás, os alunos não conseguiam isto facilmente. "Hoje em dia são as crianças que tem o poder. Quando não fazem os trabalhos e tiram notas baixas, gritam e esperneiam. Os pais tomam o partido de seus filhos que pressionam os professores a abaixar os padrões," diz Joel Kaplan, outro professor de Química da T.C. Williams. Todos ano pais vêm reclamar das minhas notas de Inglês avançado. Na minha opinião, minhas notas são bastante generosas, mas para muitos pais de classe média são vistas muitas vezes como uma afronta a seus direitos. Se os filhos fazem um trabalho limitado, muitos pais esperam que tirem pelo menos um B. Quando dei C's ou D's para alunos inteligentes da classe média, que fizeram um trabalho fraco ou medíocre, alguns pais me acusaram de estar destruindo o futuro de seus filhos. Entretanto, não são apenas os pais que estão tomando partido dos alunos numa tentativa de os livrar de maiores esforços. Culpe as escolas também. As escolas participam deste “jogo", diz o psiquiatra Lawrence Brain, que aconselha adolescentes ricos da região metropolitana de Washington. "Fiquei espantado de ver como é fácil para alunos de escolas públicas manipularem orientadores educacionais para sair das aulas que não gostam. Eles estão recebendo uma mensagem de que não têm que trabalhar duro para conseguir bons resultados se algo não é totalmente de seu agrado."

Os professores não têm controle da motivação e da ambição dos alunos, as quais devem vir de casa – e de dentro de cada aluno.



Patrick Welsh é professor de Inglês da T.C. Williams High School em

Alexandria, Va., e membro do Conselho de colaboradores da USA TODAY's.

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Achei interessante o texto acima publicado na carta da Escola Americana do Recife e decidi postá-la aqui.

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