A maioria dos prazeres adultos não são natos.
O vinho é um deles.
E carrega consigo todo um ritual:
O ritual do copo
Quem nunca se apaixonou por uma taça de vinho? Quem não ansiou pela volúpia do toque diante de uma taça abaulada, feita do mais puro cristal Bohème (cujo nome não poderia ser outro)?
O ritual da cor
Quem nunca se encantou com o brilho da vela a atravessar o rubro líquido emprestando cor às rosas e uma aparência de conveniente recato às faces femininas?
O ritual do rótulo
Atire a primeira pedra quem não passou horas esquecidas em adegas admirando rótulos que poderiam ocupar a parede de qualquer galeria de arte do mundo (de preferência as da sua casa), com a cobiça de um menino numa vitrine de brinquedos.
O ritual da rolha
A coleção de "rolhas bebidas" denuncia a preferência da casa e atesta que taças gigantes vazias a receber novas rolhas são uma boa idéia de presente de Natal.
O ritual do olfato
O que dizer da doce embriaguez pelo odor secular de uvas maceradas a romper as finíssimas bordas de um tinto cálice, perfumando os encontros?
Saborear um vinho é um prazer adulto. Que se adquire aos poucos e por toda a vida, na arte de ouvir a uva, de sentir a história e de apreciar os detalhes que formam o belo.
É uma caminhada, cujo registro do primeiro passo se perdeu num primeiro e distraído gole, que teve o mérito singular de despertar mais uma bacante adormecida.
Felizes viajantes, ébrios de prazer e beleza, brindam seus encontros à moda das tabernas de Malowe: "Nunca mais beberemos tão jovens!". Mas beberemos sempre. E sempre em muito boa companhia.
Do Vinhos e Livros
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