Take a look what you've started,In the world flashing from your eyes, And you know that you've got it,From the thunder you feel inside, I believe in a feeling,Of the pain that you left to die, I believe in the livin' In life that you give to try
24.10.06
Um tipo ordinário em Recife
Por Walter Ramos de Arruda
Há um tipo que abunda na cidade do Recife. A manguecéia cosmopolita. É no geral um tipo comum sempre a tocar o gelo com o dedo mínimo no copo de whisky. Numa semana a cabeça raspada, na seguinte um moicano eloqüente. Óculos tipo Ray-ban sempre. Diz que entende bem de dialética, que adora o som da rabeca, que escuta os maracatus às toneladas, desde a infância mais remota.
Tipo assim, que ataca de Dj nos finais de semana e trata de semiótica e comunicação nos dias úteis pelas manhãs. Gabar-se por ter feito uma produção independente é o seu forte às tardes e noites. O carro chefe. Tipo que começou a vida sexual em casa - com uma empregada, o que vive a divulgar. Se autopropaga coerente, na cidade das pontes e rios. Existencialismo nas mesas dos bares, Bauhaus e frases soltas de Foucault na mente. Eis o tipo ordinário; comum nas rodas recifenses.
É o tipo que quando pega uma carona, prefere o banco dianteiro. E uma vez no litoral, é místico à flor da pele. Quase chora ao abraçar o sol. Propala a Pernambuco, tubarões como seus verdadeiros mascotes. Ufana-se do leão do norte a ponto de quase dizer-se também imortal. É um tipo que, em qualquer temporada, não dispensa um recital nos mercados, e depois das tantas, ataca de poeta marginal. O tipo que exige aplauso. Tipo que abunda na cidade do Forte das Cinco Pontas. Animador de comitês de candidatos a cargos eletivos. Ou melhor: agitador cultural!
De apelo estético contundente, é vivaz pelas ruas do Recife Antigo. Fala alto quando discute a cena musical atual ou as artes plásticas olindenses.
Eis o cordão da linha de frente, do chamado movimento eu sou cultural. O supra-sumo da nata pensante. Tem geralmente um projeto aprovado numa lei de incentivo; quando não, tem um dedo numa articulação. Ou está por dentro de eventos. Eventos, não. A-con-te-ci-men-tos - que sempre fazem a cidade parar. Difícil acreditar, mas há aqueles que usam bandanas, para não parecerem muito iguais. Normal. Afinal é um tipo recifense; diferente.
Um tipo que se pensa convincente. Tipo convencional.
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Walter Ramos de Arruda (1976), nasceu em Recife, é graduado em Letras. Faz mestrado em antropologia. Vive escrevendo.
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