28.1.07

Os jovens adultos

Esqueça os sucessos da cantora pop Britney Spears, ou então o badalado circuito noturno da Vila Olímpia. Para alguns jovens paulistanos, ser uma exceção em um universo pautado por modismos e tendência virou quase regra. Na contramão da cultura pop e de lugares convencionais que esse tipo de público freqüenta, um seleto grupo de estudantes, entre 15 e 18 anos, vem criando as arestas para uma nova tribo, ao lado dos já conhecidos "playboys", "pagodeiros", "micareteiros" e "clubbers".

Sabe aquele disco de vinil que está empoeirado na prateleira? Para esse grupo, os vinis e composições de artistas que fizeram sucesso quando eles nem eram nascidos são a grande febre do momento. Em clima saudosista e adeptos às tecnologias, usadas como ferramenta essencial ao dia-a-dia, alguns desses jovens passam horas à frente do computador baixando uma obra do Cartola, o último lançamento de Paulinho da Viola ou "garimpando" um sucesso do Noel Rosa.
Neste clima de fundo do baú, esses jovens seguem os passos dos mais velhos, freqüentando lugares pouco badalados e curtindo programas que muita gente com menos de 18 anos certamente acharia careta.

Fanático pelo mundo da sétima arte

Enquanto na cabeceira da cama o livro "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, é devorado, na prateleira de DVDs, filmes que tem o caráter de contestação de valores, como do diretor espanhol Almodóvar, se misturam com filmes de Baz Lurman e Quentin Tarantino.
"Eu gosto de ver na tela alguém rico de personalidade. Um personagem com tiques, sotaques, com uma história, um bom figurino e cenário. Acho que esses três elementos bem pensados e construídos fazem um ótimo filme", declara o estudante de Rádio e Televisão, Augusto Amaro, de 18 anos, com pinta de quem já entende bastante do assunto. E por que não?
"Eu adoro qualquer filme de pornochanchada, eu não sei como pararam de fazer", comenta o estudante. E quando o assunto é cinema brasileiro, a lista de produções da nova safra também chama a sua atenção. "Eu gosto muito de Amarelo Manga, Cabra Cega e Nina".
Na hora de escolher um programa de fim de semana ou colocar um disco pra tocar no som, o refinamento também continua exacerbado. São CDs de gente como Nação Zumbi, Mundo Livre, Céu e Mombojó, além dos barões da velha-guarda como Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Ney Matogrosso e Zé Ramalho.

"Para sair, eu gosto de ir em algum lugar para dançar, ou que tenha movimento. Mas não gosto de lugares apertados, com gente da moda e onde não dê para conversar. Então, ultimamente eu tenho ido no Sarajevo".

Ao contrário de muita gente que teve influências em casa, Augusto optou por andar na contramão das idéias dos seus pais. "Todo mundo na minha casa têm idéias conservadoras e eu bato muito de frente com eles. Acho que é algo que sempre teve dentro de mim, uma coisa crítica e questionadora".

Música Clássica e operetas

Quem já deixou a escola lembra com saudades de alguns momentos desta época. De viagens a Porto Seguro, idas ao shopping e baladas com a turma no final do semana, algumas raras exceções preferem curtir a adolescência de uma maneira incomum.
O que dirá a estudante Yara Arruda, de 15 anos. "Minha mãe até fala que eu sou meio 'esquisita' por não me interessar em coisas que os jovens do século XXI gostam. Mas eu não ligo. Aprendi a lidar com esse tipo de crítica", conta a garota, que cursa o ensino médio do colégio Mário de Andrade, em São Paulo.

Estudante de piano clássico desde os 10 anos, quando ganhou o instrumento de presente da mãe, Yara esbanja propriedade e conhecimento quando o assunto é um dos seus maiores ídolos, Mozart. "O cara era incrível, teve uma vida maravilhosa e sofrida. Fez o 'Requiem' pouco antes de morrer, já doente. Li bastante sobre ele e assisti ao filme inúmeras vezes". Ela ainda é fã de Bach e Beethoven.

E quem pensa que a música clássica é apenas inspiração na hora de tocar, pode ter uma surpresa. Óperas famosas e obras conhecidas de Mozart se dividem entre lançamentos de Zeca Baleiro, Raul Seixas, Zé Ramalho e até Guns'n'Roses. "Geralmente, gosto de músicas felizes. Quando chega na parte "down" da ópera, eu troco e vou para a parte que me faz bem. Quando estou triste, consigo ouvir o 'Réquiem' inteiro. Gosto de curtir minha fossa de vez em quando".
Como a turma da escola lida com esse gosto musical? "Nossa, já estou acostumada a ser chamada de "velha". Melhor ser velha e madura, do que ser eternamente uma criança que gosta de Xuxa. Fui aprendendo, devagar, a lidar com isso. Agora eu falo: 'Melhor ter 50 anos e ser bem-sucedida do que ter 20 e usar drogas e ir em raves!'”.


Fonte http://www.pepsi.com.br/balada/comportamento.asp

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