O melhor cd do ano que ninguem ouviu falar

Não é todo jornalista que tem competência para fazer uma boa critica. Esse é um dos clichês que se ouve durante os quatro anos na academia. É necessário muito conhecimento de causa para opinar sobre qualquer assunto sem parecer piegas e/ou “achista”. Para chegar ao posto de crítico, muitos precisam passar por uma carreira inteira de dedicação, seja em economia, política, futebol ou cultura pop. Outros apenas têm um talento nato.

Um fenomeno que acomete muitos críticos é o da acomodação. Depois de anos criticando alguns jornalistas passam a ser displicentes nas suas colocações, escrevendo arbitrariamente seus contentos e descontentos pessoais com certo livro, filme ou situação política. É quando o crítico começa a achar que tem a prerrogativa de ditar tendências. Nessa hora o papel de educador do jornalista ultrapassa o limite do didatismo e tudo vira um questão de ego, de “não conheço e não gosto”.


Em 2007 a banda Familia Lima lançou um CD/DVD intitulado Carmina Burana. O Carmina Burana é uma releitura da obra de 1937 do alemão Carl Off. Releitura no sentido mais amplo da palavra. A banda selecionou 18 faixas desta cantata e, a partir de sua partitura original, inseriram elementos de rock, jazz e música eletrônica, muitas vezes até substituindo os elementos sinfônicos originais. Um disco que ignora estranhezas à mistura de estilos e construções graças ao capricho na produção e à extrema habilidade dos músicos em transitar por tantos estilos musicais completamente díspares. Um prato cheio para a crítica, se essa não encarasse a banda como um grupo de música erudita.


A crítica praticamente ignorou a existência desse álbum. Ficaram bem mais empolgados com o fato de o CD ser lanacado primeiramente na internet, no portal UOL Megastore, do que na concepção do disco. E ainda tratou como um CD de música erudita. Heavy metal, jazz e psy trance misturados em uma releitura de Carl Orff não pode ser considerado música erudita (alguns mais puristas defendem que também não pode ser considerado música).


Carmina Burana da Família Lima passou batido na agenda cultural de 2007. Os poucos críticos que se aventuraram preferiram trataram da distribuição na internet como um catalisador do consumo de música erudita e esqueceram (ou realmente não souberam) que Carmina Burana é uma obra absolutamente única e inovadora da música nacional. Nossos críticos não são mais os de antes.

Fonte: http://www.poisbem.com.br/o-melhor-cd-do-ano-que-ninguem-ouviu-falar