31.12.09

A culpa é da ausência

É injusto o significado dado a saudade, esse sentimento que quando chega nos trás tão boas lembranças, tão boas sensações , sentimento este que nos faz limpar a caixa de e-mail quando na verdade a intenção é reler o e-mail que já foi lido várias vezes, ligar e dizer que ligou sem querer, ouvir as músicas que te fazem lembrar, sentir aquele perfume, ver alguém parecido na rua, trocar o nome das pessoas pelo nome de outras pessoas, rever fotos... tudo isso é muito bom. A saudade nos faz olhar para trás e valorizar o que já passou, quem já foi, o que já se viveu. A saudade engrandece porque nos faz refletir e reconhecer o valor dos sentimentos, das pessoas. A saudade é doce... o amargo é a ausência... é a rotina, a rotina que você construiu e que de repente quando alguém ou alguma coisa não faz mais parte dela, vem o sabor amargo da ausência . Algumas pessoas conseguem “preencher” esse “amargo”, mas acredito que não deixam de sentir saudade porque ninguém pode ser substituído, ou melhor, o que se sente por alguém pode acabar, mas as marcas ficam pra sempre porque faz parte do que se viveu. Cada sentimento é único, não existe sentimento igual, até porque o que se sente por alguém é despertado pela singularidade desse alguém, afinal que chato seria o mundo se todos fossem iguais. Existe também a saudade de você mesmo, saudade de quem você já foi , de quem você era na infância, da coragem, da ousadia que você já teve um dia, e se essa saudade te encomoda é porque o que você é hoje precisa um pouco do que você já foi. Tem também a saudade do que você nem viveu ainda, alguns encaram como frustração, eu não, como prefiro sempre olhar o melhor das coisas, encaro essa saudade como um tipo de impulso de vida porque sempre há tempo para concretizar sonhos. Ter saudade do que você ainda não viveu te faz viver, te faz lutar em prol das suas realizações, lutar pelo que te deixa feliz, é o que Freud chama de desejo como pulsão de vida onde o não desejo significa pulsão de morte. Pois é, a saudade é doce sim e não pode ser confundida com nenhum outro sentimento, podemos associá-la à outros, outros bons sentimentos. Quando as lembranças chegam e não são boas, o que se sente é nostalgia e não saudade, embora alguns dicionários encarem como palavras sinônimas, eu discordo. É preciso saber sentir saudade. É gostoso sentir saudade, sentir saudade significa que existe uma história e que foi bem vivida se não, não sobraria a saudade, sobraria a nostalgia. È fácil perceber que a saudade é um bom sentimento porque ela nos deixa com vontade de viver aquele momento outra vez e quando não é possível, a culpa não é da saudade, é da ausência, seja física ou não. É a ausência que causa esse tipo de impossibilidade. Mas não devemos nos preocupar em reviver o que ausência impossibilita, se foi bom, o sentimento deve ser bem guardado e se a maldita ausência não permite vivê-lo outra vez, o que se tem a fazer é direcioná-lo para outra pessoa não no sentido de substituição, mas no sentido de permissão, sentir faz parte da vida por isso devemos valorizar os bons sentimentos e quando os sentimentos não tão bons não podem ser evitados devemos então, no mínimo, aprender com eles

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